Se viajar é colecionar amigos pelo mundo, escrever sobre viagem não é diferente. O mundo virtual dos viajantes também é grande, diverso e cheio de gente inspirada a trocar idéias, referências, histórias. Uma dessas expedições pela web me levou até um blog que tinha tudo isso e ainda era tocado com muito bom gosto e estilo por um designer carioca. Metida que sou, entrei logo em contato e comecei o papo. O projeto “A Culpa é do Fuso” ainda estava engatinhando, mas ele se mostrou super entusiasta da ideia e deu a maior força – atitudes que fazem a diferença quando sua nova empreitada só desperta insegurança. Assim, ele me convidou a escrever um post para a seção “Parceiros de viagem” do blog, o que me forçou a sentar no computador e pela primeira vez escrever a minha história e a história do “A Culpa é do Fuso”.
Muita água já passou por debaixo dessa ponte desde o dia em que o post foi publicado e quis aproveitar esse novo espaço para agradecer ao Michel Zylberberg do Rodando pelo Mundo pela motivação e pela injeção de confiança.
Vale a pena ler o post original que tem fotos nossas e uma introdução do Michel, mas estou reproduzindo o texto aqui para os preguicinhas de plantão. E fica a conclusão da história: parceria boa é fundamental para o sucesso da sua viagem!
“Escrevo as seguintes linhas da sacada de um apartamento de onde avisto o incrível skyline de Singapura, meu lar há mais de um ano. É uma rotineira tarde de domingo quando os batuques do templo hindú da esquina se confundem com o rock alto que atravessa as paredes do meu vizinho australiano. Do outro lado do mundo, no Brasil, meus amigos e minha família ainda dormem os resquícios de uma noite de sábado.
Não muito tempo atrás, essa que hoje é minha rotina na Ásia seria inimaginável. Redatora publicitária, trabalhava em um canal de TV a cabo. Recém-juntada, vivia a dois pela primeira vez em um aconchegante apartamento em Laranjeiras. Vegetariana, ia à feira todos os sábados pela manhã. Carioca, pulava blocos de carnaval em Santa Teresa, ia à praia de Ipanema, reclamava do preço da cerveja e do trânsito. Mas apesar de toda a alegria da minha vidinha comum, por nenhum instante eu tirava os olhos e o pensamento daqueles 30 dias de felicidade plena chamados “férias”.
Com emprego fixo desde a faculdade fui, de férias em férias, colecionando mochiladas: América do Sul, Europa, Ásia, Brasil… e o mundo foi ficando pequeno para 30 dias por ano. Mas “é o que temos pra hoje”, eu pensava. Um dia, quem sabe, isso muda? Ter meu próprio negócio? Virar freelancer? Ideias assustadoras pra quem foi educada para ter uma carreira. Mais assustadora ainda pra quem vive em uma cidade cara como o Rio de Janeiro. Trocar o certo pelo absolutamente incerto requer ousadia e coragem. Uma certa audácia, até! E confesso: me faltava tudo isso. Eu precisava de um empurrãozinho.
Pouco depois de adentrar aquele terreno nebuloso dos 30 anos, entre crises e dúvidas a vida me deu o empurrão que eu precisava de uma forma inesperada. Meu ultra-recém-juntado-namorido recebeu uma proposta de trabalho em Cingapura e em um papo de 10 minutos foi decidido: era hora de fazer as malas. Menos de dois meses depois, nosso voo da Emirates aterrissava no aeroporto Changi da ilha cidade-estado no sudeste asiático. Sem amigos, sem família, só nós dois. Como eu havia sonhado por tanto tempo, minha vida agora era uma tela em branco inspiradora e ao mesmo tempo assustadora.
Para minha sorte, eu já trabalhava como roteirista freelancer para uma produtora no Rio de Janeiro, uma atividade que eu poderia exercer de qualquer lugar do mundo com um laptop e uma boa conexão. Viva a modernidade! E viva os sócios da produtora que já compreendem esse novo modelo de trabalho ainda ignorado por muitas empresas. Sem dúvida foi o que me fez resistir à tentação inicial de chegar aqui já à caça de emprego fixo, carteira assinada e vinte (sim, vinte) dias de férias por ano.
Me reinventar e me redescobrir como pessoa e como profissional foi um desafio maior do que eu poderia imaginar. Para entender e enfrentar esse processo de mudança, me cerquei de tudo o que era capaz de me motivar e me inspirar a construir um novo caminho. Reencontrei meu lado criativo, aprendi a valorizar meu tempo livre e fazer bom uso dele. A distância da minha família e dos meus amigos me fez querer escrever mais, fotografar mais, registrar mais. Minhas câmeras se tornaram parceiras inseparáveis.
A localização privilegiada com voos diretos – e curtos – a lugares que eram sonhos de consumo anteriormente quase inatingíveis nos permitiu fazer o que mais amamos: viajar! Passado um ano, eu já acumulava horas de material gravado pelas andanças na Ásia: Myanmar, Camboja, Laos, Indonésia, Tailândia, Hong Kong… e a lista não parava de crescer. Tantas belas imagens fadadas a um HD externo!
(FOTO: Instagram "A Culpa é do Fuso")
Para completar as conversas breves com a família e os amigos no Brasil que a enorme diferença de fuso horário eventualmente permitia, passei a contar a nossa história aqui do outro lado do mundo através de curtos vídeos das nossas viagens. O que nasceu como um pequeno projeto pessoal começou a crescer, inflado pela força dos amigos e do marido – que a essa altura já tinha sido promovido a câmera 2. A outrora brincadeira ganhou um nome, uma cara, um site e se transformou em uma web serie com episódios quinzenais.
O projeto, ainda totalmente independente, é tocado basicamente por mim (imagens, roteiro, apresentação e edição), com a ajuda fundamental do meu marido que viaja comigo e faz as imagens de apoio e do Nuno Boggiss, designer responsável por toda a arte da série. Todos ralando muito pelo simples desejo de investir tempo e energia em um projeto que nos permite liberdade criativa e trabalhar com muito, mas muito amor!”