A melhor coisa de ter morado cinco anos no sudeste asiático foi ter a chance de revisitar lugares e corrigir algumas más decisões de viagens anteriores. O Sri Lanka, apesar do tamanho compacto, foi um desses destinos que mereceu uma segunda olhada com mais carinho. Quando visitamos o país da primeira vez, resolvemos seguir um roteiro bastante comum entre os turistas que chegam por lá que inclui as plantações de chá de Ella, a capital cultural Kandy, o forte de Galle e as ruínas de Sigiriya.
Não há dúvidas de que essa lista de atrações representa uma boa amostra do que o Sri Lanka tem a oferecer. O problema mora na logística da viagem. A ilha, mesmo pequena, não conta com uma boa infraestrutura e grande parte do percurso consiste em estradinhas de mão dupla e linhas ferroviárias que proporcionam viagens incríveis, porém lentas. Com isso, quem tem pouco tempo para visitar os pontos turísticos mais famosos do país acaba por passar mais tempo se deslocando do que nos lugares em si. E isso, para nós, é um tremendo ponto negativo.
(Leia também: "De trem pelo Sri Lanka - Ella a Kandy")
Voltamos da primeira visita ao Sri Lanka com a sensação de que a ilha tinha mais a oferecer se a explorássemos do jeito que mais gostamos: lentamente e sem muitos planos. E foi assim que, alguns meses depois, embarcamos de volta para uma das viagens mais deliciosas da nossa temporada na Ásia.
(FOTO: Clarissa Ferreira | Weligama, Sri Lanka)
ARUGAM BAY: A QUERIDINHA DOS SURFISTAS
Já havíamos sentido o gostinho das praias do Sri Lanka quando visitamos Mirissa na primeira visita ao país, um balneário popular devido à proximidade da capital, Colombo. A costa da ilha, porém, é uma sequencia de praias a serem exploradas e, dessa vez, queríamos ir bem mais longe. E assim fizemos.
Nosso objetivo era chegar até Arugam Bay, ou A-Bay para os íntimos, na costa leste do Sri Lanka e, a partir de lá, explorar de scooter as praias da região. Para quebrar a longa viagem do aeroporto até o nosso destino final, decidimos pernoitar em Udawalawe, um dos muitos parques nacionais do país e que nos deu uma pequena amostra da vida selvagem abundante que nos acompanharia ao longo de toda viagem.
(FOTO: André Garcia | Safari em Udawalawe, Sri Lanka)
Arugam Bay é uma pequena vila de pescadores que entre os meses de Junho a Agosto é invadida por surfistas em busca das melhores ondas do país. A temporada também é marcada por campeonatos de surf, pousadas lotadas, festas e muito agito. A nossa expectativa, entretanto, não era de ver nada disso, afinal, estávamos em pleno mês de fevereiro e no auge da baixa temporada.
Chegamos em A-Bay para encontrar a vila sonolenta e vagarosa, como é de se esperar de um lugar habitado por pescadores e uma pequena comunidade muçulmana. Alguns poucos turistas transitavam pela rua principal que acompanha a praia e era possível cruzar com os mesmos rostos nos poucos cafés e restaurantes que insistem em permanecer abertos o ano todo. A calmaria, porém, estava longe de tirar o charme da cidadezinha e dava para perceber no rosto de cada viajante ali o alívio de estar curtindo aquele paraíso na santa paz da baixa temporada.
(FOTO: Clarissa Ferreira | Vila de pescadores em Arugam Bay, Sri Lanka)
AS PRAIAS SELVAGENS
A praia da vila de Arugam Bay é agradável, mas não é o ponto alto do lugar. Subimos numa scooter alugada na pousada e passamos os dias seguintes curtindo o que a região tem de mais especial: a localização. Por estar espremida entre dois parques nacionais, toda área conta com paisagens belíssimas e é habitada por muita vida selvagem: pássaros, crocodilos, veados, búfalos. Na estrada, pavões sobrevovam nossas cabeças ou espreitavam na copa das árvores. Elefantes podiam ser vistos com frequencia rumando casualmente para um banho na praia. As plantações de arroz brotavam do mesmo solo alagado onde os búfalos vinham beber água. Em todos esses anos na Ásia, nunca tivemos um contato tão intenso com a natureza quanto esses dias explorando os arredores de Arugam Bay.
(FOTO: Clarissa Ferreira | Arugam Bay, Sri Lanka)
EXPLORANDO A REGIÃO
Não tínhamos muito planejamento para os dias em A-Bay e nem foi necessário já que a navegação é simples: uma única estrada principal que segue para as praias do norte ou para o sul até chegar ao Parque Nacional. Pelo caminho, praia seguida de praia a gosto do freguês. Algumas delas são pontos de surfe populares e contam com beach bars que lotam na alta temporada. Em fevereiro, porém, curtimos as areias de Pottuvil Point, Lighthouse e Whisky Point na companhia de ninguém mais além de simpáticos vira latas.
Todos esses pontos, apesar de isolados, contavam com campings, pousadas, bares e cafés, o que leva a crer que a alta temporada por lá é realmente animada. Pra quem curte o agito, A-Bay tem muito a oferecer. Pra quem procura uma aventura solitária, selvagem e colorida, também. Basta escolher a época certa e aproveitar esse paraíso.
(FOTO: Clarissa Ferreira | Points de surf quase desertos, Sri Lanka)
SEGUINDO VIAGEM: TANGALLE & MIRISSA
Havíamos chegado à costa leste cruzando o parque nacional de Udawalawe. Na hora de voltar, optamos por seguir pelo litoral e assim poder continuar explorando as praias da ilha.
Foi assim que chegamos em Tangalle, uma das praias no sudeste do Sri Lanka. Apesar de mais movimentada e com maior infra estrutura do que A-Bay, Tangalle não decepciona no quesito vida selvagem e isolamento. Com areia e coqueiros a perder de vista espremidos entre o mar e o mangue das lagoas, o que não falta por lá é beleza natural, eco resorts, esportes de aventura e um por do sol difícil de esquecer.
(FOTO: Clarissa Ferreira | Hotel Serein, Tangalle - Sri Lanka)
A última parada foi a praia de Weligama, próxima a Mirissa, famosa por ser ponto de observação de baleias. Apesar de estar tomada por hotéis, bares e restaurantes e longe de ter a beleza da costa leste, Weligama é um bom ponto para aproveitar os últimos dias de viagem gastando a energia com aulas de surf e yoga ou apenas tomando um drink na beira do mar.
De Weligama, saímos bem cedo direto para o aeroporto sem ter que pernoitar na praia sem graça de Negombo. Chegamos de volta em Singapura bem mais entusiasmados do que na primeira visita e com planos para a próxima ida ao país. A missão? Explorar outras praias no Sri Lanka, dessa vez de tuk tuk e com a cria na garupa. Não sabemos quando, mas o roteiro já está na cabeça….
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